O Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC/UFU), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, deu início a um projeto de redução da fila de espera das cirurgias eletivas (não emergenciais). A lista é considerada pela direção um dos maiores problemas da instituição — nela, há pacientes que aguardam anos por um procedimento simples. A primeira etapa, já em implantação, é encontrar os inscritos e fazer uma nova triagem. O objetivo é que os pacientes sejam quantificados e, entre eles, identificados os casos mais graves. Como o HC é o único hospital que realiza procedimentos cirúrgicos de alta complexidade na região, os casos menos graves vão sendo deixados para trás. Por isso, as intervenções de média complexidade têm as maiores filas de espera. As especialidades com maior demanda não atendida são ortopedia, otorrinolaringologia (amídala e adenoide), além de cirurgias plástica e geral. “No nosso levantamento, encontramos pessoas que esperam por uma cirurgia de amídala há cinco anos”, disse o diretor técnico do HC, César Augusto dos Santos.Por meio de telefonemas, funcionários do HC e da Secretaria de Saúde entram em contato com os pacientes para resgatar a lista daqueles que ainda necessitam das cirurgias. “Existem casos em que a pessoa se mudou, conseguiu fazer por meio de convênio particular ou, pior, acabou pagando pela operação, mas não avisam ao hospital e continuam integrando a nossa lista de espera”, afirmou Santos. Os pacientes que ainda necessitarem dos procedimentos passarão por nova análise clínica e triagem.A nova lista de espera deverá solucionar outro antigo problema do hospital, o alto índice de não-comparecimento de pacientes com cirurgia marcada. Cerca de 10% das operações eletivas não são realizadas porque o paciente não vai ao hospital. “De acordo com os horários disponíveis para cada médico, um número de pacientes é chamado para a operação. Esta quantidade de pessoas que não aparecem é muito alta, temos que trabalhar para diminuir. Com a lista atualizada, saberemos realmente quem precisa efetuar a cirurgia e quem não precisa”, disse.
AmbulatórioOutro projeto para diminuir os cancelamentos de última hora é a criação de um ambulatório de pré-operatório. Ainda sem data definida para ser implantado, o objetivo é que os pacientes sejam preparados antecipadamente por uma equipe multidisciplinar. Os profissionais realizarão exames e, se necessário, vão medicar as pessoas para que elas estejam em plenas condições de serem operadas.
Projeto prevê parceria com hospitais privados
Segundo o coordenador da rede de saúde em Uberlândia, Adenílson Lima e Silva, também está em fase de implantação um projeto piloto de contratação de hospitais da rede particular para realizar as cirurgias de média complexidade que estrangulam as listas de espera do HC. Por enquanto, as especialidades de otorrinolaringologia, oftalmologia e ortopedia estão sendo atendidas no Hospital Santa Marta. Pacientes com catarata podem ser operados em mais três institutos: ISO Olhos, HOBC e Oftalmoclínica. Já cirurgias cardíacas são realizadas no Hospital Santa Catarina. “O principal empecilho para ampliar o projeto é orçamento. É difícil que os hospitais particulares aceitem as tabelas de preço do SUS e não tem como alterarmos estes valores”, disse Lima e Silva. De acordo com ele, cirurgias de hérnia e vesícula biliar estão em fase de negociação.Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou que pretende realizar, em sistema de mutirão, 200 mil cirurgias em quatro anos. As operações serão realizadas em hospitais da rede particular da capital. Segundo Adenílson Silva, este programa é estadual e poderá chegar em Uberlândia nos próximos anos. “Até lá, vamos buscando soluções locais”, disse.
Paciente esperou dois anos por operação
O motorista particular Donizete Muniz Vieira, 52 anos, esperou por uma cirurgia cardíaca por dois anos. Na semana passada, finalmente conseguiu ser operado e receber uma válvula mecânica no coração. Durante o período de espera, quando passava mal, era encaminhado para Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) e era mandado de volta para casa, porque o problema só poderia ser resolvido com a operação. “Os médicos disseram que não sabiam como eu aguentei tanto tempo. Fui abençoado por Deus por ter durado tanto. Foi um período de muito sofrimento, passei muito mal até conseguir uma vaga”, disse Vieira. Os principais sintomas da doença de Donizete eram cansaço intenso e perda de força. “Não conseguia carregar cinco quilos, por isso me afastaram do trabalho. Agora, quero voltar, mas não sei se vão me aceitar. Sinto falta de ser útil”, afirmou ele, que está afastado pelo INSS e tem pela frente mais 60 dias de repouso absoluto para se recuperar.
Lygia Calil
Repórter
Jornal Correio de Uberlândia
Foto: Beto Oliveira
